Por que a formação em Secretariado perdeu o foco?


#Opinião  

O processo de educação formal (graduação) perdeu o foco do que é essencial para o Secretariado Executivo. Equivocou-se ao  privilegiar conteúdos básicos em detrimento de conteúdos específicos. 

O desvio e a deturpação na formação de Secretários acontecem quando se privilegia o ensinamento de conteúdos das mais diversas áreas do mundo corporativo e se deixa – de forma camuflada - o ensinamento de conteúdos específicos e próprios do Secretariado, para um segundo momento. 

A ênfase em conteúdos básicos, como por exemplo: recursos humanos, relações públicas, relações internacionais, para citar apenas alguns, lamentavelmente levam muitos graduandos e bacharéis a considerar esses conteúdos como geradores de conhecimentos entendidos como fundamentais e canalizam sua formação para essas áreas, tendo o Secretariado como secundário. 

O que quero dizer é que não utilizam esses conteúdos/conhecimentos para atuarem como assessores executivos com mais efetividade e competência, e visão sistêmica. Amparam-se nesses conhecimentos para migrar para outras áreas, descaracterizando sua formação em Secretariado e desta forma, de longe qualificando-se como um secretário analista-simbólico, muito bem definido por Robert Reich. 

Esse embate, na minha opinião, vem de uma interpretação deturpada desde o estabelecimento das Diretrizes Curriculares para a graduação em Secretariado Executivo (2004). As Diretrizes Curriculares, no item “Conteúdos curriculares básicos”, apontam que os cursos devem contemplar em seus projetos pedagógicos e em sua organização curricular, estudos relacionados com as ciências sociais, jurídicas, econômicas, de comunicação e de informação. Claro que sou totalmente favorável – e sempre defendi - que a formação de um Secretário Executivo contemple esses conhecimentos. Contudo, pela ausência de professores específicos e qualificados de Secretariado, os conteúdos básicos acabaram ganhando mais ênfase na formação de Secretários do que os conteúdos específicos, assim determinados nas Diretrizes Curriculares. 

Os professores com formação em Secretariado, que seriam os que teriam o know-how para manter o foco na essência do Secretariado, acabaram tendo sua voz abafada pela estrutura corporativista posta nas IES, fechada em seus departamentos, que sempre almejam uma fatia generosa da carga horária das aulas que compõem a “grade curricular”. 

Isso mesmo, conscientemente quero dizer grade, porque a preocupação corporativista não se compromete efetivamente com o currículo de um curso. Relegam-no à responsabilidade dos professores que ministram disciplinas específicas, e que nem sempre conseguem constituir um departamento próprio de Secretariado.  

O Secretariado perdeu seu foco e entrou na onda da “generalidade”, do genérico, do saber de tudo um pouco, porque foi engolido por essa postura departamental corporativista. Esquecemos da essência, porque permitimos que os conteúdos básicos tomassem conta das estruturas curriculares. Com isso, confundimos a cabeça e o fazer profissional dos bacharéis.  

Empombamos demais a grade curricular dos cursos e nos omitimos em construir um currículo de fato para o Secretariado. Costuramos uma colcha de retalhos, fazemos um verdadeiro patchwork com a nossa profissão, alinhavando com disciplinas de múltiplas áreas. 

É algo tão presente no contexto que recentemente me deparei com um post em uma rede social de um grupo do qual faço parte, onde um professor, que considero muito, chamou atenção para o fato de se fazer os TCCs ou trabalhos finais de curso em diversas temáticas sem, contudo, lincar com o Secretariado. Estamos nos referindo a TCCs do curso de Secretariado!!.  

Se essa situação está se tornando uma realidade nos TCCs. Com muita tristeza no coração, também está se firmando como uma realidade em dissertações de Mestrado e teses de Doutorado de bacharéis em Secretariado. Bacharéis de Secretariado que são professores de Secretariado, e que defendem suas teses a partir de objetos de estudos que tem nada a ver com a área em que lecionam nas IES. 

Claro, com o título de doutor, serão pesquisadores. Em que área? Do objeto de estudo do doutoramento? Ou do curso em que lecionam e são concursados, o Secretariado? 

Que postura eles assumirão frente aos estudantes, que estão aí em sala de aula ávidos por conhecimento para construírem sua carreira profissional? E na expectativa de aprenderem a lidar com as especificidades da área profissional? 

Certamente ficarão no vazio. No vazio de um perfil profissional que não estão encontrando em quem deveria lhes orientar nesse sentido. Postura é algo que não se ensina por ensinar. Postura se ensina pelo exemplo, por “ser”, pelo comportamento.
Tenho dito!

 

 

Comentários

  1. (desculpe se dupliquei o comentário) Concordo com cada palavra: a pergunta é: o que fazer para reverter esse quadro? A profissão está perdendo o sentido... logo vai deixar de existir.

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  2. Cara professora/secretária ou seria secretária/professora Eliane Wamser? Fico feliz e triste com suas palavras... feliz por saber que ainda existe "no reino dos escribas" vozes que ecoam de maneira mais crítica e realista... triste por ver nas palavras de uma profissional do seu nível que minhas contestações aqui em Aracaju-Sergipe, não era apenas uma ato de pessimismo... os seus comentários parecem descrever, sem reticências, o cenário que vivenciei e que ainda está em voga do curso de Bacharelado em Secretariado Executivo da UFS... sou Licenciado em Letras Português/Português e estou concludente (em TCC) no curso de Secretariado Executivo; qualquer semelhança com nossa realidade local, não é mera coincidência... Abram os olhos SECRETARIADO ou continuaremos numa eterna "a noite dos mortos vivos"!!!

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